segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Toda criança é capaz de aprender

“Esse menino não tem jeito pro estudo” (palavras de um pai). “Quando eu tinha 10 anos e vi que não conseguia passar do segundo ano, eu mesmo falei: eu num dô pro estudo e comecei a trabalhar.” (Menino trabalhador, 13 anos).


Quantos de nós não conhecemos depoimentos como estes, de pessoas que largaram os estudos precocemente e hoje cerram as fileiras dos brasileiros que não exercem plenamente sua cidadania? Existe, em nosso senso comum, uma crença arraigada de que certas pessoas, desde pequenas, manifestam uma falta de jeito, uma inaptidão para o estudo e que, por mais que se faça, não é possível mudar esse quadro.


Tanto no imaginário social como, infelizmente, na própria cultura escolar, essa crença é freqüentemente reprisada. Às vezes ela aparece na simplicidade das formulações das pessoas de baixa escolaridade. Às vezes ela aparece travestida de argumentos técnicos da maior competência. Porém, quando procuramos analisar esse quadro, com olhos um pouco mais críticos, nos deparamos sempre com a velha e conhecida cultura da repetência.


A cultura da repetência se sustenta numa série de mitos, muito conhecidos de todos. Vejamos alguns deles:


- criança pobre só vem à escola para comer


- repetir o ano é bom para o aluno pegar base


- professor bom é aquele que reprova


- as famílias pobres não dão valor à escola


- a criança desnutrida na primeira infância está irremediavelmente condenada ao fracasso escolar


Embora existam análises de especialistas sérios e respeitados, mostrando que tudo isso não é verdade, as pessoas se apegam a essas afirmações como se elas fossem dogmas de fé ou postulados científicos irrefutáveis.


Por quê? Porque acreditar nisto faz com que a culpa e responsabilidade pelo fracasso escolar recaiam sobre a criança e sobre a sua família.


Assim, ficam isentos de maiores responsabilidades, a escola e as autoridades responsáveis pela política educacional.


Os mitos da repetência devem ser questionados e criticados em sua falta de fundamento. Todos precisam saber que, quando não são deslavadas mentiras, eles não passam de meias verdades usadas de maneira incorreta e injusta contra as crianças.


Quando uma criança não está aprendendo, o que temos de mudar é o modo, o jeito de ensinar, e não declarar a criança como incapaz de aprender.


Os critérios de avaliação devem ser também revistos. A avaliação deve ser usada como instrumento para detectar dificuldades e melhorar o jeito de ensinar do professor, e não para condenar a criança.

A culpa pelo fracasso não pode ser impingida só ao aluno. Essa é uma responsabilidade que deve ser compartilhada pela família e pela escola, que precisam trabalhar juntas pela superação das dificuldades que a criança vem enfrentando.


Pais, professores e entidades que trabalham com crianças devem procurar entender e praticar o respeito à individualidade de cada uma delas. Nem todas aprendem do mesmo jeito e no mesmo ritmo, embora todas sejam capazes de aprender. Por isso, não é justo condenar uma parte das crianças ao fracasso.


É preciso que a escola, os pais e as entidades comunitárias, que trabalham com crianças, difundam ao máximo os gestos, as atitudes, as palavras que reforçam a auto-estima das crianças e favoreçam o seu sucesso na sala de aula e na vida. Pequenas palavras e gestos, que não custam nada aos adultos, podem ser decisivos na vida de uma criança. 

Esse texto foi enviado por Nair Cardoso de Freitas Inoue - Educadora

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